Finalmente uma opinião coerente sobre o índice de Desenvolvimento da Educação Básica no Brasil (IDEB)...segundo ela as escolas não salvam o mundo...na minha opinião nem os professores fazem milagres....é importante romper com o discurso de perfumaria salvacionista de muitos políticos em ano de eleição...educação é coisa séria .
Vamos ver a matéria publicada no Último Segundo:
Escolas não salvam o mundo, diz secretária do MEC
Para Maria do Pilar Lacerda, não dá para pensar em melhora profunda da educação sem melhorar o País como um todo
Priscilla Borges, iG Brasília | 27/08/2010 07:00
Chegar aos mesmos níveis de qualidade educacional dos países desenvolvidos exigirá do Brasil mais do que investimento nas escolas.
A opinião é da secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva.
Em entrevista ao iG, ela diz que é preciso tirar o caráter “salvacionista” da educação.
“Não dá para pensar em uma melhora profunda da educação sem melhorar o país como um todo”, ela admite.
No entanto, a mineira, formada em história pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que o Brasil tem motivos para comemorar.
Para ela, a população passou a exigir qualidade e políticas que resolvam os problemas do País.
Para Pilar, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – que mede a qualidade de ensino em escolas, redes e municípios – está contribuindo para mudar o ensino oferecido pelas escolas do País.
Primeiro, serve de medida de avaliação.
Depois, passou a definir políticas e estratégias para vencer desafios.
“O resultado virá em médio prazo. Mas as mudanças estão acontecendo. A sociedade acompanha o Ideb hoje e cobra responsabilidades”, diz.
Pilar conversou com o iG sobre os resultados do Ideb dias após a equipe de reportagem do portal ter percorrido, no início do mês, 1.000 quilômetros pela Bahia, o Estado que amarga algumas das notas mais baixas do Brasil no índice.
Desde segunda-feira, uma série de reportagens mostrou a realidade que justifica o desempenho das escolas de quatro municípios.
Professora da rede pública em Minas Gerais, desde 1976, Pilar já foi secretária municipal de Educação da Prefeitura de Belo Horizonte e presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Professora da rede pública em Minas Gerais, desde 1976, Pilar já foi secretária municipal de Educação da Prefeitura de Belo Horizonte e presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Para ela, os municípios se tornaram foco das políticas, especialmente os que mais precisam. “Invertemos a lógica”, afirma.
iG: Qual a importância do Ideb para o País hoje, em sua avaliação?
Pilar: Ter uma medida da qualidade de ensino e oferecer um norte para as políticas públicas, que oriente a tomada de decisão em todos os níveis.
Em nível local, nos municípios, acho que o mais importante foi que o Ideb proporcionou que eles tivessem consciência do próprio desempenho.
O Ideb só tem sentido se servir para orientá-los a melhorar.
iG: O que mudou na educação brasileira a partir do Ideb?
Pilar: Acho que a criação do índice mudou a orientação das políticas do MEC para os municípios.
Pilar: Acho que a criação do índice mudou a orientação das políticas do MEC para os municípios.
O regime de colaboração tomou outro rumo a partir da primeira divulgação do Ideb.
Antes, a transferência de recursos voluntária – aquela além da obrigatória – era feita para os municípios que apresentavam projetos.
Passamos a dar prioridade aos que eram mais frágeis depois do Ideb.
Invertemos a lógica. Acredito que os gestores das escolas também estão mais conscientes sobre sua situação e mais focados nos projetos pedagógicos.
A cultura de avaliar e planejar a partir dos próprios resultados está chegando às escolas e isso só foi possível por causa do Ideb.
iG: E o que ainda deve ser mudado?
O interior da escola - professores, pais e alunos – precisa se apropriar mais desses resultados.
O interior da escola - professores, pais e alunos – precisa se apropriar mais desses resultados.
É preciso promover debates internos sobre eles, para que as próprias escolas tomem decisões a partir daí.
Até o Ideb, não havia essa cultura de avaliação, a escola não se conhecia, não havia comparação possível ou preocupação com esse desempenho.
Mas essa apropriação do Ideb pela escola ainda é muito frágil.
iG: Muitas variáveis externas à escola influenciam diretamente a qualidade da educação e não são mensuráveis.
A senhora acredita que algumas sejam mais determinantes? Como a sociedade deve olhar o Ideb, sabendo que não é capaz de medir tudo o que influencia o ensino?
Pilar: É muito importante lembrar que os fatores extraescolares são muito determinantes para o sucesso escolar.
Pilar: É muito importante lembrar que os fatores extraescolares são muito determinantes para o sucesso escolar.
Nenhum dos países desenvolvidos na área educacional tem uma distribuição de renda ruim.
Não dá para pensar em uma melhora profunda da educação sem melhorar o País como um todo.
Educação é necessária, mas não é suficiente para salvar o mundo.
É preciso reconhecer as especificidades de cada local e articular trabalhos com outros setores, como a saúde, a assistência e até a área que cuida de planejamento urbano, como rede de água, esgoto, asfaltamento.
O Ideb é muito importante porque aponta os lugares frágeis e os que têm bons resultados.
As avaliações devem ser feitas para garantir aprendizagem para todos. Não adianta reprovar crianças para não fazerem a Prova Brasil ou passar todo mundo sem que tenham aprendido. Nenhuma pode ficar para trás.
iG: O que a senhora acredita que pode ser feito para mudar realidades como as que a reportagem do iG visitou e apresentou a você?
Pilar: É importante fortalecer as áreas do campo, para que as pessoas permaneçam nesses locais e se fortaleça uma massa crítica local.
Pilar: É importante fortalecer as áreas do campo, para que as pessoas permaneçam nesses locais e se fortaleça uma massa crítica local.
Criar políticas em diferentes frentes como saúde, assistência social. Interiorizar as universidades federais e as escolas técnicas, porque onde tem campus tem pesquisa, mestrado, doutorado. Isso mantém a juventude na região, formando a massa crítica que vai atuar nas escolas e criar políticas públicas. Coisas que impactam positivamente na educação.
iG: Qual o maior desafio na área educacional que ficará para o próximo presidente, em sua opinião?
Pilar: O maior desafio será garantir escola para todos os alunos de 4 a 17 anos, tudo ao mesmo tempo e agora.
Pilar: O maior desafio será garantir escola para todos os alunos de 4 a 17 anos, tudo ao mesmo tempo e agora.
A ampliação do ensino obrigatório foi aprovada recentemente. Três milhões de brasileiros ainda estão fora da escola e, até 2016, terão de estar incluídas.
Isso significa garantir espaço físico, vaga e projetos pedagógicos contemporâneos que garantam permanência com aprendizagem. Acho que o próximo presidente não deve mexer no Ideb por enquanto. É preciso dar mais tempo ao processo para pensar em ajustes.
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