A
escola hoje e os alunos
que não aprendem
ROBERTO
LEAL LOBO E SILVA FILHO
É preciso rever modas como o valor universal do trabalho em grupo, a
'postura crítica' em vez do conteúdo, a profusão de tudo que é 'social' ou
extracurricular
A
educação brasileira está em crise.
Além da recorrente violência escolar a
imprensa noticia com freqüência casos de alunos armados ou com drogas, além de
agressões a professores, pais e filhos parecem achar que a escola não pode
contrariar os alunos ou exigir desempenho.
As
próprias famílias não conseguem impor limites aos filhos às vezes, nem os
pais têm limites, algo que se espraia à sala de aula.
Esse
problema, que está se tornando quase epidêmico no Brasil, não é desconhecido em
outros países.
Neste
momento, vale lembrar um livro francês que nunca foi muito divulgado no Brasil.
Para quem está preocupado com a situação das escolas, vale ler "A Escola
dos Bárbaros", de Isabelle Stal e Françoise Thom, publicado no Brasil pela
Edusp ainda em 1987, apontando um cenário que só se agravaria no Brasil nas
décadas seguintes.
As
autoras são duas professoras francesas que contam a degradação que viam surgir
nas escolas daquele país já na década de 1980. Os problemas que elas enxergaram
nunca soaram tão familiares.
Elas
consideram que a falta de disciplina nas escolas reflete uma sociedade que
"adota o prazer como o ideal, em todas as direções para tal sociedade, o
objetivo da civilização é se divertir sem limites".
Ou
seja, a escola desistiu de conduzir os jovens à vida adulta.
Nesse
sentido, as autoras acertam em cheio ao apontar a profusão de práticas
extracurriculares, fáceis e sem conteúdo, que servem para matar o tempo do
jovem, como um dos grandes problemas da escola de hoje em dia. Os pais
brasileiros podem reconhecer com facilidade essa moda dominando também as
nossas escolas.
Nas
palavras das autoras: "É uma enganação afirmar que a inaptidão para
expressar-se, que a ignorância crassa em história, em geografia, em literatura
e a incapacidade em seguir um raciocínio elementar" sejam um preço que
tenhamos de pagar para que todos se sintam à vontade na escola, permitindo a
"inclusão" de todos os alunos.
Sob o
pretexto de instaurar na escola a igualdade, o ensino é nivelado por baixo. Não
há como escrever melhor do que elas: "A ambição da igualdade a todo preço
desencoraja o esforço de aprender, tipicamente individual".
Não se
pode abandonar o ensino de conteúdo ou deixar que os alunos escolham o que
querem aprender. É possível incluir todos os alunos na escola isto é,
democratizar o ensino, criando uma escola que atenda à massa sem a atual
catástrofe.
Além
dessas teses, as autoras criticam, com muita dureza, pedagogos, professores,
administradores, sindicatos de professores e a nova geração de pais.
Os
sindicatos, especialmente, estão mais preocupados em defender a mediocridade e
o corporativismo. Eles apontam soluções simplistas para todos os males que
afligem o ensino básico, como o aumento dos orçamentos ou ações tecnológicas
nas escolas.
Isso
sem falar nas ideologias que banalizam o ensino, como se o papel principal da
escola não fosse tirar o aluno da ignorância.
O livro
pode ser ácido e ter adjetivos em excesso. Pode até ser injusto com relação à
importância de democratizar o acesso à educação, algo fundamental para diminuir
as injustiças da sociedade.
Mas ele
é preciso ao defender a destruição de alguns paradigmas tão em moda no Brasil,
como:
- A
qualidade inquestionável e universal do trabalho em grupo;
- A
"postura crítica" sobreposta à absorção de conhecimento;
- A
frouxidão e a permissividade em vez de disciplina e cobrança;
- A
prioridade das atividades "sociais" em vez do estudo persistente;
- A
valorização dos pesquisadores de banalidades;
- A
ênfase nas metodologias em vez dos conteúdos.
Vale a
reflexão: quantas gerações de alunos serão prejudicadas até o estudo
persistente e o conteúdo voltarem a ser valorizados?
ROBERTO
LEAL LOBO E SILVA FILHO, 74,
professor titular aposentado do Instituto de Física de São Carlos da USP, é
presidente do Instituto Lobo. Foi reitor da USP
fonte: Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, 23 de outubro de 2012.
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