MEC aplica Enem com erros no cartão de resposta
e perguntas repetidas
Órgão responsável pelo exame não checou impressão final e ficou sabendo dos problemas no gabarito só ontem, após o início da prova
07 de novembro de 2010 0h 00
O Ministério da Educação admitiu no fim da tarde de ontem que soube apenas durante a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - ao abrir e distribuir as provas - que havia um erro na impressão do cartão de resposta entregue aos estudantes.
Além disso, parte das provas de cor amarela foi entregue aos candidatos com questões duplicadas e folhas repetidas.
pesar de minimizar o problema, o governo não sabe quantos milhares de estudantes deixaram de ser avisados a tempo do erro.
Ou mesmo quantos receberam orientações equivocadas dos fiscais em sala de aula. Em vários locais do País, estudantes relataram ter recebido instruções erradas sobre como lidar com o problema.
Outros tiveram a prova trocada depois de reclamarem. O Estadão.edu foi o primeiro a denunciar a falha após a aplicação da prova.
A confusão principal foi no cabeçalho do cartão de resposta, onde os alunos anotaram o gabarito. No caderno de prova, os alunos tinham de responder, em primeiro lugar, as questões de ciências humanas, cujas perguntas vinham numeradas de 1 a 45. Depois, vinham as perguntas de ciências da natureza, entre os números 46 e 90. No cabeçalho do cartão de resposta, porém, a ordem estava invertida.
Na parte correspondente às questões de número 1 a 45, estava escrito "ciências da natureza" no topo. E, em cima do espaço para marcar as respostas de 46 a 90, estava grafado "ciências humanas". O erro, aparentemente simples, confundiu estudantes por todo o País.
O outro problema ocorreu apenas com as provas de cor amarela - o Enem usa quatro cores de prova, por segurança. A prova amarela tinha questões do caderno branco encartadas erroneamente e, por causa disso, 31 perguntas estavam com numeração duplicada ou simplesmente não existiam.
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Até a noite de ontem, não havia uma versão para explicar o que ocorreu na impressão das provas. O MEC criou em cima da hora a solução de um requerimento na internet para os estudantes pedirem a correção invertida, já que os cabeçalhos dos gabaritos foram trocados em relação às provas. Mas o ministério também não sabia dizer a partir de quando essa possibilidade estará disponível na internet.
"No decorrer da semana", afirmou o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), José Joaquim Soares Neto. "Ainda não tenho claro a origem do problema", disse. "Claro que existem revisões, houve uma falha", ressaltou. "É um processo bastante complexo. Nesse momento não tenho como afirmar onde foi que não ocorreu a conferência, a falha desse problema."
Segundo ele, o Inep já entrou em contato com a gráfica que imprimiu as provas e o convênio Cespe/Cesgranrio que elaborou o exame deste ano. Soares minimizou a responsabilidade do MEC no erro de ontem. "O Inep não tinha as provas. As provas são impressas na gráfica em regime de total sigilo", disse.
Inesperado. O episódio estragou os planos do governo de anunciar a aplicação do Enem 2010 com sucesso um ano depois da anulação do exame por causa do vazamento das provas denunciado pelo Estado.
Numa entrevista coletiva no fim da tarde de ontem, o Inep quis minimizar o erro. Falou em tranquilidade, mas teve de admitir que foi pego de surpresa pela troca dos cabeçalhos do gabarito.
"Fiquei sabendo por volta das 13 horas. Foi no começo da prova", disse Soares Neto. Ele admitiu ainda que não pode garantir que todos os 3,5 milhões de estudantes que compareceram ao exame receberam a informação de preencher as respostas de acordo com a orientação dada de última hora pelo ministério.
A recomendação era que a numeração das questões da prova fosse seguida no preenchimento do gabarito. "Se, por acaso, alguma sala ou estudante não recebeu a orientação, estamos abrindo o requerimento", afirmou.
Dimensões
Desde o ano passado, o Enem se tornou o maior vestibular do País.
4,6 milhões
de alunos se inscreveram na edição 2010 do exame
83 mil
vagas são disputadas
16 mil
locais aplicaram a prova no País
AS FALHAS DO EXAME
Outubro/2009
MEC cancela o Enem após ser avisado pelo Estado que a prova havia vazado. Exame é remarcado para dezembro. USP, Unicamp e PUC desistem de usar o Enem em seus vestibulares.
Dezembro/2009
Dos 4,5 milhões de inscritos, só 1,5 milhão faz o Enem. O Inep divulga gabarito errado das provas. O presidente do instituto, Reynaldo Fernandes, pede demissão.
Janeiro/2010
O Sisu, sistema online do MEC para candidatura a vagas nas federais usando o Enem, estreia com problemas de lentidão e erros. Alunos demoram até 14 horas para fazer inscrição.
Fevereiro/2010
Inep admite que um problema na digitalização das redações do Enem levou à divulgação errada das notas de 915 estudantes. Um problema técnico no Sisu faz com que estudantes não classificados para vagas em instituições federais aparecessem como convocados para matrícula.
Março/2010
Das 47,8 mil vagas oferecidas em universidades federais pelo Sisu, 15% não são preenchidas
Agosto/2010
Inep deixa vazar dados pessoais dos inscritos no Enem em 2007,2008 e 2009.
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