quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

PROFESSOR READAPTADO:VÍTIMA DO PRECONCEITO ENRAIZADO NA CULTURA ESCOLA


 

Existe na rede estadual de São Paulo e em outras redes estaduais e municipais uma legislação sobre a questão da readaptação.
Neste caso vamos comentar sobre a legislação da rede estadual de São Paulo.onde os readaptados possuem suas atribuições definidas de acordo com o rol que é estabelecido pela comissão de assuntos de assistência à saúde – Caas.é importante lembrar que ao contrário dos outros setores do funcionalismo, onde a readaptação só atinge os titulares de cargo, no quadro do magistério, os ocupantes de função — os não efetivos — são passíveis de readaptação, nos termos do estatuto do magistério. 
O que acontece com os readaptados?Por que tanto preconceito???
Sou professora readaptada e já senti na pele essa cultura preconceituosa em relação a readaptação tanto na rede estadual como na rede municipal que atuo,muitos "colegas" de profissão e outros funcionários  adotam uma posição equivocada e preconceituosa em relação aos professores readaptados,pois esquecem que  os readaptados  estão nessa situação  porque possuem problemas de saúde comprovados por “muitas” perícias médicas  e nem sempre a escola oferece um trabalho de acordo com o problema apresentado,algumas simplesmente encostam o readaptado como um “leproso”,outras o caracterizam como “aproveitador”que quer ganhar na moleza e isso deixa o readaptado ainda mais doente.Alguns sofrem assédio moral diariamente por parte de seus superiores.
O preconceito é geral ,mas  o “assédio horizontal” é  o maior problema dos readaptados  que são vistos como "um pesos morto " ,enroladores, preguiçosos e etc pelos seus pares.
Eu sou readaptada e trabalho muito respeitando minhas restrições médicas,desenvolvi várias doenças profissionais devido as condições desfavoráveis das unidades de educação que trabalhei e as longas jornadas,ganho meu salário trabalhando e sei que mereço cada centavo dele...absurdo na minha opinião é o "preconceito" que existe nas escolas...não cheguei aqui de paraquedas ,foi  muito sacrifício para chegar a esta profissão atualmente tão desvalorizada.
A maioria dos professores readaptados terminam recolocados nas secretarias para arquivar prontuários, outros como inspetores de alunos e alguns como “responsáveis pelas máquinas de  Xerox”  ,o que a meu ver é  nítido desvio de função,pois é possível desenvolver funções  pedagógicas sem estar em sala de aula.

Publiquei neste blog uma noticia sobre o pagamento do  bônus e o comentário um tanto infeliz de uma coordenadora pedagógica gerou uma grande polêmica(32 comentários),pois retratou o preconceito enraizado em relação a readaptação e  sobre a questão dos direitos do professor readaptado,destacamos então algumas orientações  de acordo com os artigos 41 e 42 da lei nº 10.261/68 e o decreto nº 52.968/72 e artigo 1º da resolução ss nº 77/97, a readaptação verificar-se-á sempre que ocorrer modificação do estado físico ou mental do funcionário que venha a alterar sua capacidade para algumas tarefas ou com relação a certas condições ou ambiente de trabalho. a readaptação não acarretará diminuição, nem aumento de remuneração e o readaptado fará jus à: promoções, progressão funcional, férias, mudança de sede, etc.. 
Infelizmente não se pode negar que existe um grande preconceito em relação ao professor readaptado na cultura escolar brasileira legitimando claros desvios de função, fato que não é de se estranhar, pois se não existe um plano "decente" de carreira no magistério, tão pouco haverá para o professor readaptado uma adequação de função que respeite sua formação e seus problemas de saúde.
Para concluir: é  importante lembrar que nós professores somos formadores de opinião e que a escola tem a função de formar cidadãos e o dever de combater o preconceito em todas as suas esferas, mas...na pratica ,infelizmente não é o que ocorre,somos vítimas de assédio moral e horizontal.
A readaptação deveria ser um processo de adequação funcional  em equilibrio com as restrições médicas impostas ,visando mais qualidade de vida para o profissional,mas na prática termina gerando mais sofrimento  e angustia.





IDENTIDADE E TRABALHO DOCENTE: A SITUAÇÃO DO PROFESSOR READAPTADO EM ESCOLAS PÚBLICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Atenção, abrir em uma nova janela. 

Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol* é professora há 19 anos da rede pública do Estado de São Paulo, e há 6 anos está na situação de readaptada. É formada em Educação Física, pós-graduada em Didática, Educação Especial e Mestre em Educação. Coordena projetos em escola pública, realiza mediação de conflitos entre alunos e professores, presta assessoria ao projeto de Qualidade de Vida na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e é pesquisadora da Universidade Brás Cubas.



No contexto das instituições escolares tem sido comum ouvir de professores readaptados dúvidas, angústias, frustrações e reclamações sobre suas atuais condições. A readaptação gera desrespeito, desvalorização profissional, sofrimento, exclusão, restrição de atividades, mudança de função ou de local de trabalho, dentre outros obstáculos para o desenvolvimento da identidade profissional docente.



Este texto apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado que teve por objetivo identificar e explicitar quem é o professor que se encontra na situação de readaptado em escolas públicas do Estado de São Paulo. Para tanto, pesquisou-se seu perfil; como o processo de readaptação interfere na sua identidade profissional; e se é possível uma proposta de reabilitação e integração para o professor readaptado.



A pesquisa identificou 254 professores readaptados nas 78 escolas que pertencem à Diretoria de Ensino Região de Mogi das Cruzes - SP. Problemas nas cordas vocais são a principal causa-doença que motiva a readaptação, seguida por problemas de coluna e fatores psiquiátricos. 



Segundo informações colhidas no ano de 2005 junto ao Departamento de Recursos Humanos, o professor na situação de readaptado no sistema estadual de educação deve permanecer em afastamento temporário ou em definitivo, e exercer funções correlatas ou inerentes às do magistério, fora da sala de aula, conforme o resultado da avaliação pericial médica que tenha estabelecido o rol de atribuições que poderá executar nos ambientes escolares. 


A média de professores readaptados por escola ficou entre 2,36% a 3,54%. Verificou-se que 38,6% passaram a trabalhar nas secretarias das escolas, 36,6% nas bibliotecas, 20,9% desenvolviam atividades em mais de um ambiente dentro das escolas e 3,9% atuavam nas salas ambientes de informática.

Do ponto de vista qualitativo, revelaram-se aspectos da identidade docente no processo da readaptação. Os dados e as informações colhidas por meio dos questionários aplicados e dos depoimentos das colaboradoras permitiram afirmar que a readaptação promove uma suspensão da identidade docente desses profissionais. Além disso, esses profissionais ficam sujeitos ao preconceito já enraizado na cultura escolar.

Embora haja iniciativas pontuais, no sistema público estadual não existe uma ação preventiva abrangente que auxilie o professor a evitar o processo de readaptação. 
Também são ausentes ações de integração e reabilitação para o profissional que já se encontra readaptado. 
São tomadas medidas transitórias em cada gestão governamental, sempre na incumbência da secretaria de saúde, que utiliza a perícia médica como um meio para auxiliar na diminuição dos processos de readaptação.

Assim, se a readaptação foi criada para que o servidor público não continuasse em licenças de saúde constantes, conforme indicação no Manual do Readaptado e da Readaptação (2005), o que pudemos identificar foi que a maioria dos professores readaptados está nas escolas exercendo funções diversas da sua formação, voltadas a suprir falta de funcionários específicos, sem uma proposta coerente de integração com educadores ou uma proposta de reabilitação funcional relacionada à sua formação e habilitação. O processo de readaptação, como tem se realizado, não promove uma efetiva readaptação, mas novos fatores de sofrimento que geram angústias e exclusão. "



A cada dia, um professor se licencia por dois anos

Desde janeiro, 194 se afastaram da rede estadual por problemas de saúde 




Índice é o maior entre os servidores; problemas nas cordas vocais, na coluna e psicológicos são os mais recorrentes 




FÁBIO TAKAHASHI


DE SÃO PAULO 




O professor de história Carlos, 42, fala sozinho às vezes. Seu coração, conta, dispara sem motivo aparente. "Não conseguia controlar os alunos. Queria passar o conteúdo, poucos me ouviam. Foi me dando uma angústia. Fiquei nervoso." 


Não era assim. "Eu era bem calmo", afirma, referindo-se ao período anterior a 2004, quando entrou como docente temporário na rede de ensino paulista. 


Aprovado um ano depois em concurso, foi considerado apto a dar aulas, na zona sul da capital. Passados três anos, obteve uma licença médica, que se renova até hoje, sob o diagnóstico de disforia -ansiedade, depressão e inquietude. 


Carlos espera nova perícia. Quer se tornar readaptado -situação de servidores com graves problemas de saúde, que ficam ao menos dois anos afastados da sala de aula. Fazem atividades administrativas na secretaria e na biblioteca, por exemplo. 

De janeiro até a última sexta-feira, 194 docentes (mais de um por dia) da rede paulista foram readaptados, aponta levantamento da Folha no "Diário Oficial". Pelos cálculos da professora Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol, que fez uma pesquisa financiada pela Secretaria da Educação, 8% de todos os professores da rede estão readaptados. 

Os casos mais recorrentes são problemas nas cordas vocais, na coluna e psicológicos. A autora do estudo é ela própria uma professora readaptada. 

Entre os servidores da Educação, o índice desse tipo de afastamento é maior que dos demais: 79% dos readaptados trabalham nas escolas, categoria que soma 53% do funcionalismo. 


POR QUE ADOECEM

Pesquisadores apontam duas razões para tantas licenças. A primeira é a concepção da escola, que requer para as aulas estudantes quietos e enfileirados. "Isso não existe mais. Esta geração é muito ativa. O professor se vê frustrado dia a dia por não conseguir a atenção deles", diz o sociólogo Rudá Ricci, que faz pesquisas com educadores de redes públicas do país, inclusive no município de São Paulo. 

A outra razão são as condições de trabalho. Em geral, os professores dão aulas em classes com mais de 35 alunos, possuem muitas turmas e poucos recursos (não há, por exemplo, microfone). Estudo divulgado na semana passada pelo Instituto Braudel e pelo programa Fulbright mostra que os docentes paulistas têm condições piores que os de Nova York. 

Têm carga maior (33 horas semanais em sala, ante 25) e possuem mais alunos por sala (35 e 26, respectivamente). 

2 comentários:

  1. Fatores que interferem diretamente na valorização dos profissionais da educação, e na qualidade do ensino de forma geral. Pois, podemos destacar também, que o adoecimento dos professores em razão as condições de trabalho, acarreta ao sistema de ensino um custo crescente com as concessões de licenças e substituições de professores.

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  2. Na escola, me chamaram pelas costas de sofá.

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