quarta-feira, 20 de abril de 2016

Como construir caminhos para a educação em meio ao impeachment
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Maria Alice Setubal

Passada a votação do último domingo (17) sobre a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a sociedade brasileira tem agora um longo caminho pela frente. Precisamos reconstruir pontes que favoreçam um diálogo efetivo para a saída da crise, tanto econômica como política. Mas neste percurso o que acontece com nossa educação?

Dada a emergência da crise econômica que paralisou o país, aumentando o desemprego de forma avassaladora, diferentes economistas apontam saídas para o ajuste fiscal. Já do lado governista, a ênfase fica na manutenção de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, ao lado do aumento da oferta de crédito.
Infelizmente, a educação tem sido esquecida por ambos os lados. Assim, fica mais uma vez para trás não só o futuro do Brasil, mas o próprio presente, com suas escolas e alunos. Ajustes de qualquer ordem poderão destravar a economia, mas não trarão mais produtividade ou impulsionarão as inovações consistentes que o mundo global exige. Sem falar, é claro, dos direitos e da importância de construirmos uma cidadania apta a debater de forma mais qualificada sua participação na sociedade. Para isso, precisamos de uma melhor educação.
Os diferentes agentes da educação (como escolas, universidades e organizações da sociedade civil) têm alcançado nos últimos anos consensos em torno de importantes programas ou metas, mesmo tendo posições ideológicas distintas entre si. Esse é o caso do Plano Nacional de Educação, que oferece um mapa que norteia as ações de todas as instâncias com relação à educação, e também é o caso atual da Base Nacional Comum Curricular.
A vontade e a motivação das pessoas para participarem do momento político atual devem ser potencializadas para que não deixemos escapar de nossas mãos a luta pela melhoria da qualidade da educação brasileira.
Em tempos de cortes de orçamento, a sociedade civil pode pressionar seus governantes, exigindo mais transparência e melhor uso dos recursos públicos. É importante também que façamos as seguintes questões: afinal como é gasto o dinheiro destinado à educação básica? Que resultados foram alcançados? Como está a avaliação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)? E a infraestrutura das escolas? E a educação infantil, todas as crianças estão matriculadas? Os jovens estão cursando o ensino médio? São oferecidas a eles oportunidades de formação técnica? E o Enem? E os professores, estão recebendo o piso? Têm condições de trabalho e respondem pelos resultados?
Tendo o Plano Nacional de Educação como referência, a implementação do Sistema Nacional de Educação poderá ser um caminho para uma educação de qualidade em todo o Brasil. Contudo, precisamos tornar a gestão dos diferentes estados mais efetiva no alcance da qualidade para todos, contribuindo muito para um melhor uso dos recursos.
Finalmente, é necessário destacar a importância da implementação da Base Comum, que garantirá que todos os alunos do país tenham acesso ao mesmo conteúdo ao longo da educação básica. Para que governos e sociedade se mobilizem pela importância do conhecimento, um caminho pode ser investir em eventos como festivais e feiras de literatura, ciências e matemática, gincanas, concursos e prêmios voltados à educação.
Vale repetir a importância de superarmos a cultura dos diplomas. Afinal, o que realmente faz a diferença na vida das pessoas e do país é a apropriação de conhecimentos que abram as portas da participação cidadã qualificada e de melhores condições de trabalho e de vida. Trata- se da ampliação de referências culturais que possibilitarão novos vínculos entre as pessoas e o conhecimento e com as diferentes instituições que organizam a vida social.
Chavão do senso comum é falar que crises podem se reverter em oportunidade. Pois agora estamos diante dessa possibilidade. Resta saber se realmente conseguiremos amadurecer com todo esse doloroso processo que estamos vivendo.
fonte:http://educacao.uol.com.br/colunas/maria-alice-setubal/2016/04/19/como-construir-caminhos-para-a-educacao-em-meio-ao-impeachment.htm

MARIA ALICE SETUBAL

Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis

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