quinta-feira, 5 de julho de 2012


Professores que nem fizeram a prova

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O governo paulista autorizou, pela terceira vez seguida, a contratação de professores reprovados em uma prova de seleção aplicada pelo próprio Estado ou que nem se submeteram ao teste.
A gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) alega que a medida é necessária por conta da insuficiência de professores concursados ou aprovados no exame da rede estadual paulista. E para suprir afastamentos de efetivos.
Além de chamar docentes que não conseguiram atingir metade dos 80 pontos possíveis na prova, aplicada em novembro passado, a Secretaria da Educação permitiu, por meio de uma resolução publicada ontem no "Diário Oficial", que lecionem professores temporários que nem fizeram a prova.
O exame visou selecionar professores não concursados, categoria que historicamente conta com cerca de 100 mil docentes, o que representa quase a metade dos docentes da rede -onde estudam mais de 80% dos alunos paulistas.
A Secretaria da Educação não informou quantos professores reprovados ou sem avaliação atuarão em 2012.
Disse, porém, que aqueles que não fizeram o exame serão classificados a partir da titulação (diplomas) e tempo de serviço na rede.
O governo recorre a esses profissionais mesmo após tomar duas medidas para atenuar a falta de professores.
A primeira foi a realização de concurso público, com nomeação de 14 mil novos efetivos. Houve ainda redução do período em que o temporário deve ficar fora da rede.
Em 2010, lei do então governador José Serra (PSDB) exigia que o professor temporário ficasse 200 dias fora da rede após um ano de trabalho. Agora, a "quarentena" caiu para 45 dias.
"As medidas são insuficientes", disse a coordenadora da pedagogia da Unicamp, Maria Marcia Malavazi.
"Para haver mudança profunda na educação, o governo tem de dar condições de trabalho aos docentes semelhantes a de um executivo, não migalhas. Senão, quem vai querer lecionar?".
Em 2011, o governo aprovou lei que prevê reajuste de 42% no salário base dos professores, em quatro anos. O salário inicial de um docente hoje é de R$ 1.989.
Na última avaliação nacional, 70% dos formandos nas escolas estaduais de SP tiveram desempenho considerado insuficiente em português.
DEFICIT EM ÁREA NOBRE
Tradicionalmente, o deficit de docentes é maior em bairros mais carentes da capital paulista, mas atinge também as áreas centrais.
Na próxima segunda-feira, quase um mês após o início das aulas, serão convocados professores para 35 dos cerca de 75 colégios da diretoria Centro-Oeste da capital, que engloba bairros como Moema, Pinheiros e Morumbi.
Segunda melhor escola da capital, a Rui Bloem (na Saúde) chamará docentes de sociologia, geografia, física, educação física e arte.
O tema educação deverá ser um dos pontos centrais da eleição deste ano na capital, na qual poderá haver dois candidatos ligados à área: Fernando Haddad, pelo PT, e Gabriel Chalita, pelo PMDB.

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