segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Secretario de educação dispara "criticas" contra professores do MT e recebe chumbo grosso de realidade

O Secretario adjunto de educação de Mato Grosso em um ato  de grande disparate  pergunta por que o professor não está ensinando  e Professor responde com grande maestria. 
Esse artigo Opinião  é simplesmente maravilhoso. Parabéns ao professor  Edson Luis Ismael do Carmo.
OPINIÃO / EDSON LUIS
01.11.2015 | 08h45

A culpa é do professor ou das estrelas?

A sociedade vive um momento muito delicado, porém, "docilizado" 

quando se trata de escolha de culpados


Em pleno século XXI o professor é responsabilizado cada vez mais pelo insucesso da aprendizagem de seus alunos. Esta semana circulou nas redes sociais um vídeo no qual estão presentes Pedro Taques - Governador do Estado, Permínio Pinto - Secretário de Educação e, Gilberto Fraga - Secretário Adjunto de Política Educacional.

O material apresenta as novas direções do ensino público do nosso estado. Porém, o que mais chamou a atenção foram as colocações do Secretário Adjunto, que são as seguintes: “se o aluno não está aprendendo é porque alguém não está ensinando. E o professor não está ensinando porque?”

Pois bem Secretário Adjunto, o senhor já deve ter conhecimento das realidades de algumas escolas de Mato 

Grosso, bem como suas extremas dificuldades. Falo isto, porque como foi apresentado em sua entrevista, percebe-se a aproximação da secretaria junto às escolas.

Como professor sei que temos a nossa responsabilidade em escolarizar, mas, desde que haja as mínimas condições para tal. Condições que não existem em muitos ambientes escolares estaduais.

Gostaria de lhe indagar como foi feito esse diagnóstico? Uma vez que só se deve apontar algo de maneira positiva ou negativa a base de provas e constatações. 
Foram feitas inspeções em quantas escolas? Quanto tempo vossos profissionais ficaram em cada unidade escolar? Porque falar sobre educação no Brasil é falar de nada ou quase isso!

Como professor sei que temos a nossa responsabilidade em escolarizar, mas, desde que haja as mínimas condições para tal. Condições que não existem em muitos ambientes escolares estaduais

Nunca os educadores tem respaldo, seja ele qual for, principalmente, o respeito e os valores éticos.
 A escola e os professores, além da tarefa primeira, que é ensinar, vem assumindo o lugar da família, seja na educação geral ou nas atitudes comportamentais.

Ou seja, há sobrecarga nos ombros dos professores que aumenta a cada dia. Nos dias atuais, os pais perguntam ao professor em que ele pode ajudar, sendo que na verdade é o professor que deve ajudá-los.

O que quero dizer é que das 24 horas diárias, o aluno está na escola em apenas 4 horas. Afinal, de quem é a maior responsabilidade na formação do futuro cidadão?

Minha crítica à fala do Secretário Adjunto não é de caráter destrutivo, mas sim uma forma de chamar atenção para o embate e discussão sobre a atuação do professor e as condições para que se efetive um bom trabalho pedagógico.

Hoje ainda vejo uma sociedade que é dirigida por ideologias liberais e burguesas, que é clássico da sociedade capitalista. Ainda mais, a maioria das teorias pedagógicas utilizadas nos sistemas de educação, Secretário Gilberto Fraga, apresentam pensamento elaborado a partir de interesses da classe dominante.

No entanto, mesmo no rol dessas teorias existem educadores e intelectuais que acreditam estar atuando em prol de uma sociedade compatível com o interesse da classe trabalhadora explorada. Isto gera uma série de conflitos, pois, nem sempre o professor e o aluno chegam aos seus objetivos.

No mundo contemporâneo, tais sujeitos, apesar de estarem inseridos em uma nova realidade educacional, estão segregados das novas metodologias. O que é diferente das escolas tradicionais, na qual havia uma direção indiscutível, tanto de objetivos quanto de comportamentos.

Quando o senhor diz “o professor não está ensinando, por quê?”, abre uma série de contextos pedagógicos que nem Vygotsky e Piaget, entre outros, iriam responder. Tudo isso porque a própria Seduc não sente ou compreende as necessidades físicas dos alunos, tão pouco suas condições intelectuais.

Um exemplo simples é o calendário escolar de 2015, em Cuiabá mesmo com altas temperaturas não houve nenhuma alteração, afinal, vivenciamos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, nada menos que 45º graus de temperatura, todos os dias. E na sombra!

Como o aluno suportará dividir um espaço com outros 30 de sua idade, sem ao menos o uso de ventiladores ou água gelada? Isto é o básico para se exigir um mínimo de atenção à escolarização. Nas escolas não houve nenhum murmúrio a respeito de uma possível alteração.

Pensar em números é fácil como no IDEB e nas avaliações como a Prova Brasil e o ENEM. O difícil é fazer com que esse aluno compreenda que independente das condições em que ele vive, terá de conseguir algo que não é do interesse dele, mas sim de um grupo de políticos. Hoje a sociedade vive um momento muito delicado, porém, docilizado quando se trata de críticas e escolha de culpados.

Concluindo este texto, afirmo que a execução das teorias pedagógicas interferem no nosso trabalho, devo afirmar também que o nosso trabalho nunca é neutro, nunca está separado da luta ideológica e do que se acredita em teorias pedagógicas.

As teorias direcionam uma luta na educação e se não tivermos clareza sobre essa luta travada correremos o risco de cair, fatalmente, em uma série de incoerências no nosso pensar e no nosso fazer.
Por exemplo, há tantas metodologias estudadas em encontros, palestras, cursos de formação que chegam aos professores como algo a ser aplicado e não analisado, sequer discutido e repensado para cada realidade escolar. 
É o cumpra-se, também na educação. Educação que deveria ser instrumento de formação científica, mas principalmente de emancipação como prega a Carta Magna e a LDBN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).

Para finalizar, uma última questão: ao invés de trazer uma universidade de outro estado para realizar tal avaliação, por que não convidar as que existem aqui? Até porque são essas universidades que contribuem, em sua maioria, para a formação local dos professores do sistema educacional matogrossense, o que combinaria com a “essência regionalista” do atual governo.

Penso que o valor do profissional começa quando ele é solicitado e visto como tal.

EDSON LUIS ISMAEL DO CARMO é professor da educação básica nas redes municipal e estadual de ensino, Geógrafo, Pedagogo e Especialista em Urbanização e Ordenamento do Território pela Universidade de Lisboa.
fonte : http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=262&cid=246386

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