quinta-feira, 3 de dezembro de 2015


Ouvidor das polícias diz que PM foi truculenta ao desocupar escolas e vias

Ouvidor afirmou ao G1 que levará denúncias a Corregedoria e Promotoria.
Oito ações policiais tiveram excesso contra alunos, disse Júlio Cesar Neves.03/12/2015 05h30 - Atualizado em 03/12/2015 09h23


Kleber Tomaz
Do G1 São Paulo
Estudante é detido por policiais militares durante protesto de alunos na Avenida Doutor Arnaldo (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo)Estudante é detido por policiais militares durante protesto de alunos na Avenida Doutor Arnaldo (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo)
A Ouvidoria das polícias de São Paulo recebeu ao menos oito denúncias de ações truculentas supostamente cometidas pela Polícia Militar (PM) contra manifestantes, estudantes e professores durante ocupações de escolas e bloqueios de vias. Em entrevista ao G1, o ouvidor Júlio Cesar Neves afirmou nesta quarta-feira (2) que irá encaminhar os casos para apurações da Corregedoria da PM e do Ministério Público (MP).
Júlio Cesar Fernandes Neves, ouvidor das polícias civil e militar do estado de São Paulo (Foto: G1/Mayara Yamaguti)
Júlio Cesar Fernandes Neves, ouvidor das polícias
civil e militar do estado de São Paulo (Foto: Mayara
Yamaguti/G1)
“Lógico que é uma ação truculenta da PM. A Ouvidoria não vê com bons olhos”, declarou Júlio Cesar nesta tarde. “Foi uma ação truculenta por jogar gás e dispersar os estudantes daquele jeito,
com bombas”.
Há quase um mês estudantes têm ocupado escolas estaduais e bloqueado ruas e avenidas em protesto contra a reorganização do ensino público. Imagens feitas pela imprensa e pelos próprios manifestantes mostram policiais militares usando bombas de efeito moral para dispersar os atos. Também ocorreram prisões e detenções.

Segundo o ouvidor, uma solução para evitar esses confrontos entre policiais e estudantes seria o governo tentar dialogar com os manifestantes. “É preciso explicar mais e melhor a reestruturação do ensino”, disse Júlio Cesar.
De acordo com a Ouvidoria, as denúncias de truculência atribuídas aos policiais militares serão levadas a Corregedoria da corporação e ao MP.
“Esses órgãos deverão instaurar procedimentos para apurarem a identificarem os policiais envolvidos e analisarem a conduta deles”, disse Júlio Cesar. “Dependendo de cada caso, os PMs poderão ser punidos administrativamente com advertência, suspensão e até expulsão caso fique comprovado que agiram com excesso”.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública diz que "a atuação da Polícia será realizada sempre dentro da absoluta legalidade, não tolerando qualquer excesso ou abuso".
Ainda segundo a nota, "o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, estranha a atitude político partidária do Ouvidor da Polícia, que não tem atribuição, nem conhecimento técnico, para comentar a reestruturação do ensino em São Paulo. Além disso, o Ouvidor também demonstra total desconhecimento das ações da Segurança Pública, pois a Polícia continuará atuando para impedir que haja dano ao patrimônio público, como o ocorrido em Osasco, ou tumultos e badernas nas ruas, que prejudicam o acesso de milhões de paulistas ao trabalho e estudo".
Veja abaixo a relação dos casos suspeitos de ação truculenta da PM, com datas e locais, que a Ouvidoria recebeu e irá encaminhar a Corregedoria e Promotoria:
Jovem é detido por policiais enquanto estudantes de escolas estaduais protestam na Avenida Paulista, na região central de São Paulo. Os alunos fizeram uma manifestação contra a reforma na rede paulista de ensino proposta pelo governo (Foto: Leonardo Benassatto/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Jovem é detido por policiais enquanto em proesto
na Avenida Paulista (Foto/Arquivo: Leonardo
Benassatto/Futura Press/Estadão Conteúdo)
9 de outubro: Av. Paulista, São Paulo
De acordo com a Ouvidoria, duas pessoas disseram ter sido agredidas por policiais militares quando foram detidas durante protesto contra a reforma do ensino na região central de São Paulo.
O ato começou na Avenida Paulista e seguiu até a Secretaria de Estado da Educação, na Praça da República, no Centro de São Paulo.
O protesto havia reunido cerca de 1.200 pessoas, de acordo com A União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (Umes).
Jovem recebe ajuda após ação da PM perto de escola ocupada (Foto: Will Soares)
Jovem recebe ajuda após ação da PM perto da
escola Fernão Dias (Foto/Arquivo: Will Soares)
11 de novembro: Pinheiros, São Paulo
Ainda segundo a Ouvidoria, manifestantes reclamaram de policiais militares em tumulto ocorrido na escola Fernão Dias Paes, em Pinheiros, Zona Oeste da capital paulista.
Segundo as denúncias, os alunos alegaram que ocorreram prisões desnecessárias e arbitrárias. Policiais militares utilizaram spray de pimenta na direção dos estudantes.
Toda a ação foi registrada em vídeo pela própria Polícia Militar.
14 de novembro: Jardim Ângela, São Paulo
Policiais detem uma pessoa perto da escola José Lins do Rego (Foto: Reprodução/TV Globo)Policiais detem uma pessoa perto da escola José Lins do Rego (Foto: Reprodução/TV Globo)
O relatório da Ouvidoria ainda informa que estudantes disseram ter apanhado de policiais militares em confronto ocorrido na escola José Lins do Rego, no Jardim Ângela, na Zona Sul de São Paulo.

Um professor foi preso e três pessoas se feriram.
Testemunhas contaram que os agentes de segurança decidiram usar cassetetes e spray de pimenta contra os manifestantes.
19 de novembro: Campinas
Manifestação de alunos em Campinas termina em confusão  (Foto: Reprodução / EPTV)Manifestação de alunos em Campinas termina em confusão (Foto: Reprodução / EPTV)
De acordo com a denúncia que a Ouvidoria teve acesso, a Polícia Militar usou balas de borracha e bomba de efeito moral contra estudantes que ocupavam a escola Carlos Alberto Galhiego, no Jardim Santa Clara, região do Campo Grande, em Campinas, cidade do interior do estado de São Paulo.
Um vídeo divulgado pela EPTV, afiliada da TV Globo, mostra os jovens correndo no momento em que a polícia usa gás lacrimogêneo para tentar acabar com a confusão. A polícia informou que as viaturas foram recebidas a pedradas quando chegaram ao local.
30 de novembro: São Paulo e Osasco
Escola Estadual em Osasco é depredada em ocupação (Foto: Reprodução/ TV Globo)Escola Estadual em Osasco é depredada em ocupação (Foto: Reprodução/ TV Globo)
Em São Paulo, alunos contaram ter sido agredidos por PMs na escola Gavião Peixoto, em Perus, na Zona Oeste, segundo denúncia encaminhada a Ouvidoria.

Em Osasco, município da Grande São Paulo, estudantes denunciaram policiais militares que teriam jogado bombas de efeito moral na direção deles na escola Coronel Antônio Paiva de Sampaio.
1º de dezembro: Bela Vista e Avenida 9 de Julho, São Paulo
A Ouvidoria informou que vai encaminhar a Corregedoria da PM e ao MP um vídeo que mostra confusão entre alunos e policiais dentro da escola Maria José, na Bela Vista, região central de São Paulo. O caso ocorreu na terça-feira (1º).
Segundo os denunciantes, houve confronto e agressões por parte dos agentes. Segundo a SSP, "a PM foi chamada pelo dirigente de ensino, pois um baderneiro, que não era estudante, agrediu o diretor da escola com uma cadeirada e por isso foi necessária a ação da equipe policial".
Ainda na terça-feira, mas à noite, houve confronto entre alunos de escolas públicas que bloqueavam totalmente os dois sentidos da Avenida Nove de Julho, uma das principais vias que ligam o Centro a Zona Sul da capital, e policiais militares, que tentavam desobstruir o trecho.

A PM prendeu um homem e uma mulher e apreendeu dois adolescentes. Eles foram levados à delegacia e liberados na madrugada desta quarta. Em entrevista ao Bom Dia São Paulo, os detidos reclamaram da truculência da polícia. Indagada, a pasta da Segurança também não havia respondido se iria apurar a denúncia feita por eles à imprensa.

Defensoria Pública
De acordo com a assessoria de imprensa da Defensoria Pública de São Paulo, os núcleos da Infância e Juventude e de Direitos Humanos do órgão acompanham as discussões sobre a reorganização escolar. Eles analisam a questão da própria reestruturação e denúncias sobre ações policiais contra manifestantes. Os defensores estudam a possibilidade de entrarem com uma ação na Justiça.

Na terça-feira, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, disse em entrevista exclusiva ao G1 que a PM vai intervir sempre que for preciso para impedir que alunos bloqueiem as principais vias de São Paulo. Nesta semana, estudantes passaram a fechar grandes avenidas.

"E também nós não vamos permitir que fiquem agora obstruindo as vias principais de São Paulo", disse Moraes, que também comentou as ocupações nas escolas. "Reintegração deve ser feita pela Secretaria de Educação”.
Segundo o secretário da Segurança, a Polícia Militar não irá retirar os estudantes das escolas ocupadas.

Cerca de 190 escolas estavam ocupadas por alunos e manifestantes contrários à reestruturação do ensino estadual de São Paulo. O balanço foi divulgado na terça-feira pela Secretaria de Estado da Educação. O número é inferior ao apurado pelo Sindicato dos Professores (Apeoesp), que contabiliza 208 unidades paradas.

fonte:http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/12/ouvidor-das-policias-diz-que-pm-foi-truculenta-ao-desocupar-escolas-e-vias.html

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