domingo, 31 de julho de 2016

Carta aberta à Revista Veja, especialmente ao "querido" 
colunista Claudio de Moura Castro
Não vou começar "pegando leve", pois vocês não "pegaram leve" conosco, os professores.
A matéria referente à nossa classe publicada nessa semana pela ilustre revista é, no mínimo, equivocada, pra não dizer de péssimo texto, deveriam se informar melhor antes de publicá—la. 
omara que a professora do jornalista, aquela que o ensinou a ler e escrever, já tenha tido a alegria de falecer sem ler essa matéria. 
Começando pelas declarações que "não há relação clara entre o salário do professor e o que aprendem os alunos", "tais diplomas não melhoram o rendimento dos alunos", gostaria de lembrá—los que vocês não podem colocar a culpa toda das crianças não aprenderem em cima da aula do professor. 
Já visitaram salas de aula de madeira, de lata? Já viram quantos recursos temos, comparados ao excesso de estímulos que essa criançada tem hoje? Isso sem falar das famílias que, por não poderem ou não quererem, não estão nem aí para o que o filho aprendeu na escola, não olham o caderno, não estimulam, não leem para eles, ao contrário, só chegam perguntando se ele comeu!? 
A educação que os pais teriam que dar às crianças, mas não o fazem, as autoridades que nada estão fazendo a respeito, e tudo isso cai nos nossos ombros? As demandas de vacinação, consulta oftalmológica, verificação de pediculose, higiene, obrigações que seriam dos progenitores, caindo sobre nós, mais muitas outras responsabilidades? 
Os alunos com deficiência que, devendo ser atendidos por especialistas que saibam sobre suas especificidades, são atirados em sala com todos os outros, sem perguntarem se a professora sabe lidar com ele!! Acaba sendo excluído, não incluído. Queridos, saiam desse mundinho cor de rosa que vocês devem viver e venham para a realidade. Visitem as salas de aula, façam entrevistas com professores antes de querer manchar nossa categoria dizendo que trazemos prejuízos ao cofre público.
Falando em cofre público, por que vocês não vão encher o saco de quem realmente onera o nosso país com pouco trabalho e muito salário? Vocês devem conhecer... Já ouviram falar em deputados, senadores, vereadores, que nem diplomas precisam ter para depois os senhores cobrarem se estão dando resultados ou não? 
"Os salários são até competitivos se tomamos a remuneração por hora" — essa aqui eu não vou nem comentar antes que o senhor fique um dia de trabalho "fácil" dos professores numa sala de aula. Já parou pra pensar que lidamos com seres humanos? Crianças? Que independente do nosso estado de espírito, saúde, humor, temos que dar—lhes atenção, ter paciência, porque sugam toda nossa energia nas "poucas" horas que temos de convivência? Você já parou pra pensar que são pessoas, não máquinas? Poupe—me.
"45 dias de repouso" são as férias normais (que todo funcionário registrado tem direito), mais os 15 dias de recesso em julho, que são para o bem de nossos alunos e para os professores não lamberem parede, vai por mim. Você não tem experiência em sala de aula para saber o quão punk é. Você senta e escreve seus textos no computador, sentado numa cadeira confortável e com ar condicionado. Ah! Não tem nenhuma criança te interrompendo, eu aposto. Só a copeira pra trazer seu cafézinho.
"Licença— prêmio" não posso nem comentar, pois na prefeitura de Guarulhos, cuja rede faço parte há 15 anos, não temos essa "regalia". Aliás, atualmente nossa rede está em GREVE, pois nosso prefeito não cumpriu com uma série de DIREITOS nossos. Desculpa se estamos deixando seu filhinho em casa e sem aula... 
"10 faltas por saúde" — atestado médico agora é crime... Aff!!! Só professor entrega atestado... E mesmo que fosse... Doença não vem por encomenda, ok? Fiquei com infecção esse ano e preferia mil vezes estar trabalhando a ter que gastar meu tão raro salário com tantos antibióticos. E aí você somou até as gestações!!! Meu Deus, qual é o seu problema??? Você só não tira essa licença porque nasceu homem, cara!! Economize no discurso.
"Candidaturas a vereador" — essa parte, tão rara.... Eu mesma nunca nem pensei nisso. Aliás, volto a dizer: é com esse tipo de pessoas que você deveria se estressar. A maioria dos funcionários fantasma vem dessa classe aí, não de professores. Quando faltamos, pode confiar: logo nossa ausência é sentida. Crianças vão ficar sozinhas... Ou não, né? Somos substituídos, afinal, os alunos não podem se virar sozinhos. Não são papéis com palavras, que podemos deixar pra depois.
Você dissertou sobre a estabilidade. Pois é, na minha opinião deveriam mesmo ser mandados embora os péssimos professores, que, "ganhando o mesmo que os ótimos", mancham o caráter até dos medianos. Concordo que muitos não deveriam seguir a carreira, após os dois anos, quando percebem que não deveriam estar ali. E não deveriam seguir para outra secretaria, mas procurar o talento que tem e seguir em outras carreiras! Infelizmente a tal estabilidade prende no emprego esses maus profissionais. Deve ser pela falta de vagas do país, ou por falta de vergonha na cara mesmo. Mas não podemos colocar todos no mesmo balaio. Haja visto que existem tantos jornalistas e escritores bons, e não estou misturando—o a eles.
Enfim, SE cada professor usasse mesmo todos esses itens de "benefícios" que o senhor citou, poderia dizer que damos tanto gasto ao país. Mas não é a verdade absoluta. O "seleto grupo" a que o senhor se referiu trabalha e muito, às vezes apanha dos "anjinhos", dos pais, tem professor com medo de sair da escola sabia? Tem aluno da educação infantil virando o tapa na cara do professor, e nem de castigo os "coitadinhos" podem ficar. Judiação.
Não podemos pôr de castigo, nem falar mais alto, nem repetir aluno!!! Sabia que é muito mais difícil repetir um aluno com dificuldade do que passar de ano com louvor?? Você quase assina um atestado de incompetência para reter o bonitinho que não estudou durante o ano. Eles sabem que passa direto, por isso não estudam. Não querem, não se interessam. Não ponham nos meus ombros a culpa do sistema que foi criado. Tá, eu não concordo. Tá, eu reclamo pro sindicato. Mas desculpa, eles não me representam porque dão as mãos pro governo e tomam cafézinho rindo da minha cara. 
Eu não concordo com a progressão automática. Eu não concordo com a inclusão do jeito que está sendo feita. Eu não concordo com a responsabilidade dos pais sendo posta aos professores. Eu não concordo com muita coisa. Mas infelizmente não consigo mudar tudo isso. Infelizmente.

Cris Monteze
Fonte redes socias

Nenhum comentário:

Postar um comentário